O SUB-REGISTRO CIVIL INDÍGENA COMO FORMA DE NECROPOLÍTICA

UMA ANÁLISE DA REALIDADE DAS COMUNIDADES INDÍGENAS DO ESTADO DO PARÁ SOB A ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO

Palavras-chave: Sub-registro civil indígena; comunidades indígenas; necropolítica; direitos humanos; Defensoria Pública do Estado do Pará

Resumo

O sub-registro civil é uma realidade no Brasil, contudo, quando se fala em grupos de maior vulnerabilidade social, como no caso dos povos indígenas, os índices estatísticos demonstram que a falta de registro civil é ainda mais latente. Nesse cenário, vê-se que a problemática do sub-registro civil indígena é uma forma de necropolítica contemporânea, na qual o Estado se utiliza de omissões políticas para deixar de efetivar direitos, neste caso, os direitos civis ao registro, com objetivo de apagar culturas racialmente indesejáveis por ele. Diante disso, constata-se que o sub-registro civil além de ser uma necropolítica é, também, uma violação aos direitos humanos. Portanto, objetiva-se apresentar uma discussão acerca do não registro civil de nascimento das pessoas indígenas, com a finalidade de problematizar a omissão estatal, sob análise do conceito de necropolítica de Achille Mbembe. Assim, conclui-se que o quantitativo expressivo de sub-registro civil indígena decorre de uma política de apagamento cultural, a qual demonstrou-se pelo levantamento de dados realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a partir do censo de 2010, e dos relatórios referentes a atuação da Defensoria junto às comunidades indígenas do estado do Pará, a qual se deu com a implementação do Projeto ‘‘Enxerga-me Brasil: NDDH no combate ao Sub-registro Indígena”, em 2021. A metodologia de pesquisa do presente artigo consistiu na aplicação do método hipotético-dedutivo, com finalidade básica estratégica, partindo-se de uma base descritiva de revisões bibliográficas e documentais, a partir da abordagem qualitativa e quantitativa. 

 

Biografia do Autor

Antonia Beatriz de Cássia Lopes Sales, Centro Universitário do Pará

Graduanda em Direito pelo Centro Universitário do Pará (2019-2023).

Juliana do Socorro Baia Sarges, Centro Universitário do Pará

Graduanda em Direito pelo Centro Universitário do Pará (2019-2023). 

Anna Laura Maneschy Fadel, Centro Universitário do Pará

Graduada em Direito pelo Centro Universitário do Pará (2011-2015). Mestre em Direito, Políticas Públicas e Direitos Humanos pelo Centro Universitário do Pará (2017). Doutoranda em Teoria e Filosofia do Direito pela Universidade Federal do Pará, em regime de cotutela com a Université Paris 1-Sorbonne (em andamento). Membro do grupos de pesquisa (CNPQ): Filosofia Prática: Investigação em Política, Ética e Direito (FilPED) e Teorias Normativas do Direito (TND). Professora do Curso de Graduação em Direito do Centro Universitário do Pará, no qual ministra as disciplinas: Introdução ao Estudo do Direito I e II, Direitos Humanos e História do Direito e do Pensamento Jurídico e Filosofia do Direito. Tem experiência na área de Direito, Filosofia e Discussões sobre gênero, com ênfase em Teoria do Direito, Teoria Política, Direitos Humanos e Filosofia do Direito.

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Publicado
2023-12-21
Como Citar
Lopes Sales, A. B. de C., Baia Sarges, J. do S., & Maneschy Fadel, A. L. (2023). O SUB-REGISTRO CIVIL INDÍGENA COMO FORMA DE NECROPOLÍTICA. Revista Jurídica Do Cesupa, 4(2), 111-135. Recuperado de http://periodicos.cesupa.br/index.php/RJCESUPA/article/view/212